A mais pura verdade ... com um louvor a quem o escreveu ??? Bem haja !!!

A maioria silenciosa

Os Homens da Marinha Mercante são de facto uma "raça" esquisita. Formamos um verdadeiro clã, com linguagem própria, com conhecimentos únicos. Somos um exemplo de tolerância, de saber conviver e dialogar. Se os Portugueses são desenrascados, os "embarcadiços" são destes a elite.
Sabe-se hoje em dia que a formação profissional é uma componente indispensável para os profissionais de todos os ramos. Sempre que haja novas tarefas a realizar, lá vai tudo para a Formação Profissional. Menos no Mar. Mudamos de navio como quem muda de camisa, aceitamos novas tarefas e tecnologias de caminho, somos pau para toda a obra. Conduzimos e exploramos unidades de custo astronómico com um mínimo de informação, tomamos decisões em fracções de segundo sem medo de errar, somos responsáveis por milhões de euros e inúmeras vidas humanas, temos na mão a preservação ecológica de milhões de metros quadrados de superfície marítima. Vamos para o mar munidos dos Cursos da Escola e com a força de gerações de portugueses que do mar fizeram modo de vida.
Quando vimos para terra, ficamos espantados com a nossa capacidade. Temos uma incrível má imagem de nós próprios, tendemos a julgar que os "terráqueos" nos são superiores.
Pura ilusão. Basta ver a quantidade de nossos colegas que vieram trabalhar para terra em situações que nada têm a ver com o mar e analisar o sucesso que alcançaram.
Temos outra vantagem – temos aversão a "inventar trabalho". Somos todos adeptos incondicionais de fazer as coisas pelo caminho mais lógico, prático e eficaz.
Somos capazes de trabalhar em condições impossíveis e de fazer esforços físicos que nada têm a ver com a vida em terra. Mas, por outro lado, não há grupo mais folião e "calão" do que nós quando a oportunidade se apresenta.
Mas pelo nosso "feitio" pagamos um preço.
Quando desembarcamos, vimos cansados e cheios de saudades das nossas famílias (já agora devíamos pagar uma estátua às famílias dos que andam no mar; são eles os verdadeiros heróis), não temos tempo nem paciência para Clubes ou Sindicatos, só queremos viver o que o restante dos mortais vive o ano todo. Comprimimos anos em meses, meses em semanas, semanas em horas.
São os que andam no mar a nossa "Maioria Silenciosa". Embora saibamos como é que foi, e falo pelos que deixaram o "salgado", nunca poderemos ter a presunção de pensarmos saber o que eles pensam e querem. No dia que deixarmos de pensar de pensar neles (que são, no fundo, nós) estaremos mortos.
Ser Homem da Marinha Mercante é um privilégio que a Fortuna nos deu, saber como o azul é azul é uma sorte reservada para alguns, a nossa noção de tempo e espaço é uma dádiva.
Devemos ser orgulhosos do que somos, fazemos um trabalho duro e difícil, não somos reconhecidos, não somos apreciados, mas temos uma vantagem enorme sobre os outros:

SABEMOS O QUE FICA PARA LÁ DO HORIZONTE.